No Mundo dos 9 Anos
- Marta d'Orey
- 10 de dez. de 2014
- 2 min de leitura
9 não é número fácil. É a idade desta menina. São os anos que levei a aturar este ser de corpo pequenino mas nem por isso menos sabido; anos a ouvir as suas birras de princesa mimada detentora de todos os castelos que o "reinado dos irmãos mais novos" dispôe; anos de a ver crescer em folhos cor-de-rosa e anéis de plástico precioso, enquanto ria em gargalhadas de criança, só porque sim.
Mas agora que os folhos foram substituídos por encharpes cuidadosamente vestidas num apralto adulto, e os anéis pesam demais nos dedos pintados de verniz azul turquesa, as gargalhadas já não são dadas de favor, e com sorte, arranca-se-lhe um "lol" com um revirar de olhos, que não olham para além do iphone. E eu começo a perceber que o armário já esteve mais longe, e que umas quantas palmadinhas de vez em quando, não faziam mal a ninguém.
Mas tudo o que eu percebia, reduz-se a zeros, quando vejo aqueles olhos muito azuis e muito aberto, tão claros e tão grandes como sempre o foram, muito atentos a cada palavra, a cada gesto, e a cada som, quer lhes agrade, quer não. De repente, ao som da música que mete a alto e bom som, como que convidando-me para dançar, enquanto ri ás gargalhadas do meu jeito trapalhão, eu volto a ver a menina espontânea e feliz, que não quer mais que música, danças improvisadas, e uma irmã com uns toques de maluquisse.
Ainda ontem, numa conversa de café que ia desde a "revista cor-de-rosa do 4ºB", a assuntos de um foro mais amoroso, dentro daquilo que se pode arrancar de uma criança de 9 anos, eu disse-lhe entre piadas e palhaçadas:
-" És tão espontânea."
Ela, como que automaticamente, disse encolhendo os ombros:
- "A professora Amália também diz isso"
-"O quê?"
-" Então, ela também diz que eu nunca chego atrasada aos sitíos!"

São estas e muitas outras as saídas desta miúda, que tem na cabeça lógicas e raciocínios que correm a mil,onde espontâneo e pontual são a mesma coisa,e que quem não anda em passo apressado, se limita a olhar de olhos esbugalhados.
Gosto desta miúda, gosto mesmo. Mas nos dias em que se deixa descobrir do rótulo pré-adolescente, e dança como se a vida fossem dois dias, eu olho para o bocadinho dela ao qual a idade ainda não escondeu, e penso na sorte que tive em ter sido a menina de olhos azuis e riso aberto, a ter calhado na rifa.
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