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ESTOU AQUI.

  • Foto do escritor: Marta d'Orey
    Marta d'Orey
  • 7 de jun. de 2017
  • 2 min de leitura

NÃO SEI ESTOU. SEI COMO ESTOU.

Estou aqui. Aqui algo acontece. Aqui não há contante que não se mude, nem nada que não se altere em tudo. A rotação é transcrita em órbitas e a translação tem um percurso linear. “Para a frente é o caminho”, costumam dizer. Pensando bem, nem sei se há reposta que refute o dizer de dedo em riste. Se agarrasse as palavras e lhes roesse a casca até ver caroço, o que sobra é semente. A verdade fatalista alheia de escolha alternativa. O tempo faz-nos, a vida muda, o mundo avança. Para a frente.

Então e eu? Então e nós? Quanto a vocês não sei, mas eu entro aqui.

Chego a casa. Respiro fundo e faço-me gente. Cerro o punho e bato à porta. Passo a ombreira e olho em redor. Estou cercada de paredes, portas, chão e teto. Com pés e cabeça decifro a direção. Percorro os corredores que parecem não ter fim e deixo-me levar sem deixar que me levem. Apalpo o terreno com os cinco sentidos, e varro o soalho com pegadas bem vincadas. Abro as janelas e escapo-lhes quando lhes alcanço a vista.

E o relógio de pulso insiste em contar que as horas giram atrás dos ponteiros, e que o tempo passa sem que ninguém peça. Sinto o “Tic-Tac” pulsar-me na pele e deixo que me roa sem corroer. Só não permito que me passe a perna, porque ando a correr. Sigo e prossigo querendo e sabendo que não é a vontade que me faz ficar, mas aquela que me faz levantar. Os pés descalços entranham-se na terra onde assentam e os cabelos deixam-se envolver no sabor do vento. O olhar dança ao redor, mas não repousa porque sabe onde focar. É na vida. Que já foi, que poderá ser, e que já é.

Esta casa não é minha. Mas é nela que vivo sem morada permanente. Não há regras empunhadas na colher de pau, mas há conselhos que se ouvem junto à lareira. Não há espaço que não se desarrume, nem gaveta onde guarde o vazio. Há paredes que dividem, há um teto que limita, e um chão que não afunda.

Mas, um dia, dei por mim, e vi um espaço que ocupo. Vi matéria que se faz ser e vi uma vida que é livre ao escolher.

Quer queira, quer não, aqui estou eu. Quer queira quer não, é verdade que posso não voltar a dizer. Querendo mais do que não querendo, escolho escolher. O corrimão ao invés das escadas, os pés agitados e não arrastados, a porta aberta, O lume aceso, a história que se rescreve quando o narrador a ecoa na própria voz.


 
 
 

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